quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A mal-amada beterraba...

A beterraba só entrou no meu plano alimentar quando comecei a minha luta contra o peso. Nunca me tinha suscitado qualquer curiosidade. Mesmo quando o meu marido experimentou semear beterraba na nossa mini-horta de varanda, fugi dela a sete pés. Mas quando o 'click' se deu e comecei a analisar o que devia ou não comer, os benefícios do legume temido eram tantos que resolvi dar-lhe uma oportunidade. Um ano volvido não me arrependo ;)



Na altura optei por comprar beterraba em conserva porque achei que o vinagre me ajudaria a apreciar melhor um paladar que não me inspirava lá muita confiança. Felizmente hoje já é relativamente fácil encontrá-la nas prateleiras dos supermercados e o preço não é excessivo.

Aprecio mais juntá-la às saladas, é como me sabe melhor. O que me faz recordar o dia em que fiquei assustadíssima ao ver o meu marido aproveitar as folhas da beterraba que ainda resistia na horta para fazer uma salada... não fazia a mínima ideia de as folhas se podiam comer, não fossem ter alguma substância que o nosso estômago não tolerasse... enfim, já o estava a imaginar a espumar pela boca, nem quis provar e passei um tempão em agonia a confirmar se ele estava a sentir-se bem... Prova superada, a salada soube-lhe muito bem, não há qualquer inconveniente em aproveitar as olhas, pelos vistos é só vantagens ;)


A beterraba tem qualidades que nunca mais acabam:

  • Previne a formação e reduz o metabolismo das células cancerosas, e é especialmente eficaz na prevenção dos cancros da mama, do cólon e da pele;

  • Como é rica em ferro, combate a anemia;

  • Ajuda a controlar o nível de açúcar no sangue, por ser rica em fibras. Excelente para os diabéticos;

  • Facilita a circulação do oxigénio no nosso organismo, o que ajuda a combater a ansiedade e as insónias;

  • Possui um nutriente que ajuda a abrir os vasos sanguíneos, o que faz com que o fluxo sanguíneo no cérebro seja incrementado, o que é ótimo para reverter a demência ou perda de memória;

  •  Possui nutrientes benéficos ao crescimento e textura do cabelo;

  •  Ajuda na perda de peso, pois tem muito poucas calorias;

  • Aumenta a nossa resistência na prática de exercício;

  • Facilita a digestão por ser rica em fibra alimentar, o que também a torna uma boa aliada na prevenção ou tratamento da prisão de ventre;

  • Quando ingerida na gravidez, ajuda a evitar defeitos no tubo neural do bebé (sistema nervoso);

  • Protege o nosso corpo de radiações nocivas;

  • Ajuda a estabilizar os teores de ácido no nosso corpo;

  • Combate problemas de visão que se acentuam com a idade.    




Enfim. depois de tudo isto, como continuar a ignorá-la? Cozida, em conserva, centrifugada, de muitas formas a podemos ingerir e proporcionar ao nosso organismo nutrientes muito benéficos para a manutenção da nossa boa forma física. É um soldado que combate em quase todas as frentes!

Miguel Esteves Cardoso, que não deixa nada por dizer, escreveu, em 2013, um artigo no jornal Público (http://lifestyle.publico.pt/napontadalingua/324506_a-bela-da-beterraba-que-nao-tem-nada-para-deitar-fora) sobre a beterraba que não posso deixar de partilhar convosco :)

A bela da beterraba que não tem nada para deitar fora
 Por Miguel Esteves Cardoso
A beterraba é uma beleza e uma delícia que ganha muito em ser comida ao sol. Uma salada de beterraba, temperada só com cebola, azeite e vinagre de vinho, é um dos melhores acompanhamentos que há para o peixe frito ou grelhado.
Conheci-a graças às mãos mágicas e doces da dona Ana, no Restaurante O Sacas, na Zambujeira do Mar. As minhas filhas cresceram mais uns centímetros graças a essas saladas de beterraba, literalmente irresistíveis.
Não compreendo porque é tão difícil encontrar saladas de beterraba nos restaurantes. É mais uma ausência inexplicável para acrescentar às outras.
As beterrabas são baratas e fáceis de cozer (35 minutos). Nem precisam de ser preparadas. São fácílimas de descascar: basta segurá-las enquanto estão quentes para elas soltarem a pele.
Depois aguentam-se lindamente uns cinco dias no frigorífico. Dão menos trabalho do que as alfaces e os tomates, rendem mais e são mais nutritivas. Que velho preconceito pode haver contra as pobres das beterrabas?
Comprando um molho de seis beterrabas por um euro e meio, aproveita-se tudo. As folhas são grandes e bonitas. Cozidas são parecidas com espinafres dos mais finos: melhores ainda. Até há pouco tempo, igualmente tiranizados pelo fascismo anti-beterrábico, também nós deitávamos fora as folhas. Que desperdício de fofura verdinha! Agora não queremos outra coisa.
A Maria João cozeu as beterrabas, cozeu as folhas e salteou os caules, depois de um breve refogado. Almoçámos os três petiscos, cada um com a sua personalidade, textura e encanto. Os caules são estaladiços e suculentos, com um sabor diferente da beterraba em si.
Só a pele das beterrabas é que não marchou - mas ficou a desconfiança que também não há-de ser má. Tudo na beterraba é bom: é magnífica. Nem valerá a pena falar da versatilidade da beterraba: assadas no forno, por exemplo, tornam-se mais doces.
A beterraba não é bem doce. Tem um sabor telúrico. Este sabor a terra desconvence muita gente a experimentá-la. Mas o sabor a terra é leve e sensual, como o sabor umami de míscaros selvagens, crus ou grelhados.
Passeando pelas feiras e pelos mercados é que se percebe o papel importante que a beterraba tem na alimentação portuguesa. Esgota quase sempre. Já nos restaurantes é como se não existisse. Quando há, é servida como se fosse uma novidade, uma ousadia.
No Verão, quando saímos para almoçar, levamos um tupperware com umas beterrabas lá dentro. Dispomos a salada numa travessa emprestada (o restaurante tem de ser simpático e conivente) e o efeito, gastronómico e estético, é deslumbrante.
Convém avisar que a beterraba pode dar uma cor avermelhada ao xixi e ao cocó até 24 horas depois de comida: se isto acontecer, não é preciso ir a correr aterrorizado para as urgências. Prepare-se de antemão para não se alarmar. Ou vá já colar um Post-it na parede da sua casa-de-banho.
No mundo das ramas, as folhas das beterrabas serão as mais apetitosas de todas, não sendo preciso fazer mais do que cozê-las. São boas mesmo sem tempero, como acontece com os melhores grelos: o sabor do azeite tira-lhes o viço e sobrepôe-se, alterando a textura.
Segundo consegui apurar, as folhas tendem a ser usadas mais em sopas, como a rama da cenoura e do nabo. Devem ficar maravilhosas nas sopas que usam espinafres (temos planeada uma sopa de grão com rama de beterraba para o primeiro dia fresco de Outono) mas, antes de as atirar para uma sopa, faça o favor de prová-las singelas, só cozidas durante sete ou oito minutos.
Seja como for, não compre beterrabas ou nabos que não tenham rama - ou que tenham uma rama seca e velha. Também não ligue muito ao tamanho: as beterrabas pequenas, tal como os nabos, até podem ser um bocadinho mais deliciosas do que as variedades maiores.
A beterraba é um prazer que dura o ano inteiro. Em Portugal é raro o mês em que não se encontra. Antes de começar a cozinhá-la de todas as maneiras, é bom conhecê-la primeiro tal qual ela é.
Nem faço ideia como há quem consiga passar sem ela.

    

2 comentários:

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